sábado, 19 de junho de 2010

Martin Mosebach :«A Missa de São Gregório Magno, a antiga liturgia latina, acha-se hoje reservada a 'franjas extravagantes’ da Igreja romana, enquanto a liturgia divina de São João Crisóstomo vive em todo o seu resplendor no centro da Igreja ortodoxa».«Somente santos como Ambrósio ou Agostinho ou Tomás de Aquino — escreve Mosebach — teriam podido acrescentar algo à Missa, não homens fechados num escritório, mesmo que fosse morando na Cidade do Vaticano».«O que vale para a arte, em modo ainda maior deve se aplicar à oração pública da Igreja: o feio não pode derivar senão do não verdadeiro e, no âmbito da religião, isto significa a presença do satânico».

 
  
A Provocação
Maria Antonietta Calabrò
          Num ensaio, editado pela editora Cantagalli, o escritor alemão acusa as reformas do Vaticano II: elas teriam cancelado a beleza do rito.
          «Os novos iconoclastas destruíram a fé».

         Mosebach: retorne-se à liturgia precedente ao Concílio.
         Exatamente na sociedade da imagem, a Igreja sofreu o ataque de novos iconoclastas, que por meio do aviltamento da liturgia assestaram nos últimos 35 anos um golpe gravíssimo à fé católica, determinando «uma catástrofe histórica e religiosa».
          As tintas usadas por Martin Mosebach são realmente caravajagescas, a força polêmica não poupa ninguém.
A apaixonada apologia da beleza da grande tradição litúrgica da Igreja é desenvolvida não por um teólogo, não por um canonista, mas por um dos mais importantes escritores e literatos alemães. Isto é, proveniente de uma nação onde mais fortes foram as reviravoltas pós-conciliares. Nação que deu, entretanto, o berço ao atual Pontífice, Bento XVI, o qual sublinha cada vez mais freqüentemente (por exemplo, no sermão de Corpus Christio risco da secularização na Igreja e que é preciso «respeitar a liturgia». E que a Igreja não é uma ONG
          «O kitsch lingüístico, musical, na pintura e na arquitetura inundou completamente a imagem externa dos atos públicos da Igreja», escreve Mosebach no ensaio do qual está para sair a tradução italiana. Título e subtítulo não deixam dúvidas. Descreve a heresia do informe, alude claramente a um “inimigo” mefistofélico da antiga liturgia romana “que propriamente deveria se chamar gregoriana”, mas que vem mais freqüentemente definida como tridentina, quase lhe a sublinhar negativamente a relação com a Contra Reforma.
          A publicação certamente reacenderá o debate sobre o encerramento do cisma dos lefebvrianos, sobre a restauração da tradição e também sobre a reaproximação entre a Igreja Católica e as Igrejas Orientais que, a partir da ortodoxa, conforme Mosebach, souberam «preservar» a tradição plurimilenar da liturgia mais e melhor que a Igreja latina. 
          «A Missa de São Gregório Magno, a antiga liturgia latina, acha-se hoje reservada a 'franjas extravagantes’ da Igreja romana, enquanto a liturgia divina de São João Crisóstomo vive em todo o seu resplendor no centro da Igreja ortodoxa».
         Ao nível do «senso comum» do escritor que descreve os comportamentos, Mosebach se põe no séquito do grande teólogo suíço von Balthasar cuja obra principal é «Glória, por uma estética teológica» [Nota da Montfort: O modernista Urs von Baltahasar foi um dos colaboradores para os erros do Vaticano II com a doutrina heterodoxa da Kénosis e por sua exigência que fossem derrubadas as muralhas da Igreja] e o primeiro volume é intitulado exatamente «A percepção da forma». Forma e conteúdo não podem ser cindidos, afirma Mosebach, diabolicamente separados.
        Assim como o homem é alma e também corpo. Por isto a forma que a liturgia assumiu nos séculos, com processo lento e quase involuntário, não é independente do conteúdo salvífico da Missa. «Somente santos como Ambrósio ou Agostinho ou Tomás de Aquino — escreve Mosebach — teriam podido acrescentar algo à Missa, não homens fechados num escritório, mesmo que fosse morando na Cidade do Vaticano».
        Assim «o modernizador e progressista Paulo VI» se fez «tirano da Igreja » conforme a acepção da palavra dada na antiguidade quando «a interrupção da tradição por parte do soberano era definida ato de tirania».
      A única comparação histórica adaptada para descrever esta guerra à «beleza da liturgia», este rosto visível do Mistério, conforme Mosebach, é a iconoclastia bizantina, entre o século VIII e o IX, a assim chamada guerra dos ícones. Porém, a iconoclastia litúrgica de nossa época tem isto de diferente: «Aos meus olhos, surge por isquemia e enfraquecimento religiosos». Na sua essência, constitui um esquecimento: «O que vale para a arte, em modo ainda maior deve se aplicar à oração pública da Igreja: o feio não pode derivar senão do não verdadeiro e, no âmbito da religião, isto significa a presença do satânico».
          O intelectual alemão dá essa impiedosa definição: «O modelo da nova liturgia é a mesa presidencial de uma reunião de partido ou de uma associação com microfone e folhas, à esquerda está um vaso ikebana com plantas exóticas bizarras de cor laranja com velhas raízes, à direita se acham duas luzes de televisão pousando-se sobre candelabros feitos à mão. Com dignidade e recolhimento, os membros do conselho de administração olham o público, como os clérigos durante uma concelebração. Uma tal assembléia, regulada por uma ordem do dia democrática, é o fenótipo da nova liturgia, e isto não é outra coisa se não uma conseqüência inevitável do fato de que quem não quer o mistério supra temporal inevitavelmente chegará à realidade política e social».    
     Uma terceira via não é possível, explica o Autor. Naturalmente de vez em quando se chega a rupturas: “Há pessoas do clero que não acham simples fixar o rosto que convém à consagração. Qual é  a expressão do rosto que condiz com a consagração?”.
       Assim é que o sucesso da celebração é dado pela «performance» do padre. E sobre a altar, em lugar do crucifixo está o microfone para a pregação de vários tipos: «untuosa ou sabichona, intelectual ou rimbombante, intimista ou sóbria».
       E não faltam as “light night candles”. Uma citação de Goethe, um diálogo de Faust que exprime o juízo sem apelação do Autor: “Freqüentemente ouvi este elogio/ um comediante poderia ensinar  um padre. / Certo, se o padre é um comediante / por vezes isso é aquilo que ele pode vir a ser”.
       Quanto ao outro lado, o dos fiéis, é muito freqüentemente invocada sua «participação ativa» na Missa. Mas o que houve de ativo no lava-pés — pergunta-se — visto que, com certeza, São Pedro queria ser eximido dele? Para os fiéis é também indiferente ficar de pé ou sentados. Quase nunca de joelhos. Enquanto “é por meio de sinais da adoração, que pude ver desde a minha primeira juventude— afirma Mosebach — a Hóstia tornar-se para mim aquilo que ela, conforme tradição da Igreja exige ser: um Ser vivo. (Nota da Montfort: o pão que é transsubstanciado no Corpo de Cristo)».

© Copyright Corriere della sera, 13 de Junho de 2009, consultável online também aqui.

Denúncia
         «O kitsch lingüístico, musical, na pintura e na arquitetura inundou completamente a imagem externa dos atos públicos da Igreja».   

O autor

         Quarta feira sai na Itália o ensaio de Martin Mosebach, «AHeresia do informe. A liturgia Romana e seu Inimigo» (Cantagalli, pp. 252), uma defesa da liturgia católica tradicional. O volume se insere no filão cultural levado adiante pelo Papa Bento XVI que anteontem, durante a liturgia de Corpus Christi, disse que «é preciso respeitar a liturgia» e várias vezes, nos últimos «Angelus», falou contra a secularização da Igreja e a sua «transformação numa ONG».
      
O Papa .
          Bento XVI está entre os inspiradores da recuperação da liturgia proposta por Mosebach em seu livro Contra Paolo VI
          O Papa «modernizador e progressista» ter-se-ia feito «tirano», no sentido antigo de «interrupção da tradição por parte do soberano». 


    Para citar este texto: Maria Antonietta Calabrò - "A Provocação"
MONTFORT Associação Cultural
fonte:http://www.montfort.org.br/