domingo, 11 de janeiro de 2015

“AVVENIRE”, BENTO XVI RENUNCIOU EM RAZÃO DE UMA CONSPIRAÇÃO


SEGUNDO JORNAL “AVVENIRE”, BENTO XVI RENUNCIOU EM RAZÃO DE UMA CONSPIRAÇÃO


Pope Benedict XVI arrives to attend a meeting with seminarians at the Romano Maggiore seminary in Rome
Fonte: Antonio Socci / Tradução: Dominus Est
Ontem tomamos conhecimento – nada menos que nas páginas do “Avvenire“, o jornal da Conferência episcopal italiana – de algo que nem mesmo eu tinha conseguido escrever, em meu livro “Non è Francesco“, sobre a (ainda) misteriosa “renúncia” de Bento XVI.
Na realidade, na página 2 do jornal dos bispos, pode-se ler, textualmente, que houveram “grupos que, pelos habituais motivos de poder e abuso (de poder), traíram e conspiraram para eliminar o papa Ratzinger, reconhecido “teólogo refinado”, e o impeliram à renúncia“. 
Vocês leram corretamente. Trata-se de uma notícia explosiva. Afirma-se – sem mesmo o condicional – que existem “grupos” que “traíram e conspiraram para eliminar o papa Ratzinger” e realmente o “impeliram à renúncia“. 
Neste ponto, é absolutamente necessário dar nomes e dizer abertamente quem são eles. 
Porque não se trata de algo sem importância. Assinalo que se tudo ocorreu assim, de fato “a renúncia” não é válida, porque – para ser válida, em virtude do direito canônico – ela deve ser totalmente livre de condicionamentos e constrangimentos de qualquer natureza (e o Conclave que seguiu é inválido). 
O aspecto espantoso da história é que essas linhas estão inclusas numa carta que, juntamente com outra, é explicitamente atribuída ao diretor do “Avvenire“, Marco Tarquinio, que, nessas duas cartas, escreve que elas “dão o que pensar e levantam sérias questões“.
Nas afirmações de Tarquinio, não há o menor distanciamento da notícia – dada como certa – da “conspiração” que determinou a “renúncia” de Ratzinger.
Evidentemente Tarquinio estava ocupado demais com a mania de atacar Vittorio Messori – contra quem se lançou as duas cartas – e assim na página 2 ele publicou essa “bomba“, que gostaria de nos fazer crer – com um grande desprezo pelo ridículo – que os “inimigos” de Francisco são os mesmos“inimigos de Bento“.
Eis, com efeito, o título que o “Avvenire” deu à carta: “Messori: “Nemici” de Francesco e di Benedetto” (Messori: inimigos de Francisco e de Bento). 
O CASO MESSORI
Ora, o excesso de zelo produz brincadeiras de péssimo gosto. Mesmo as crianças, com efeito, sabem que aqueles que se opuseram duramente ao papa Ratzinger hoje são partidários entusiasmados de Bergoglio. 
Até mesmo as crônicas desse jornal demonstram isso, e com uma evidência radiante, não somente no mundo católico, mas também no laico, onde, entre os partidários do papa Bergoglio, estão na primeira fila Eugenio Scalfari e Marco Pannella. 
Além disso, é ridículo afirmar que os “inimigos” de Ratzinger são os mesmos que se opõem a Bergoglio, é totalmente inaceitável insinuar que Vittorio Messori possar ser contado entre os “inimigos” de Bento XVI. Realmente isso é uma piada.
A solidariedade intelectual que o liga a Ratzinger, como se sabe, é bem antiga, e começa com o histórico volume “Relatório sobre a fé“, um livro entrevista com o então ex-cardeal bávaro que marcou uma reviravolta na Igreja pós-conciliar, pois ele colocara fim à “auto-demolição progressista e modernista dos anos 70 e expusera as bases da reconstrução da época Wojtyliana, ou seja, a redescoberta da fé de sempre”. 
Esse livro, entre outras coisas, custou para ambos, o cardeal e o jornalista, ataques furibundos dos habituais meios progressistas. Eis como Messori recordou isso em um de seus artigos: “O Relatório sobre a fé foi publicado em 1985. Faltavam apenas quatro anos para a queda do Muro, e, todavia, na Igreja, vastos setores ainda se apaixonavam por um comunismo que eles tinham descoberto com uma paixão igual ao atraso. Tudo, nesse livro, provocou a indignação daqueles que se diziam “progressistas”, tudo, mas, a principio, e sobretudo, a definição que Ratzinger tinha dado do marxismo: “Não esperança, mas vergonha do nosso tempo”. 
A solidariedade intelectual entre Ratzinger e Messori é também uma sincera estima recíproca e, com o tempo, acho que ela se tornou uma amizade profunda. 
Se há um intelectual que se poderia indicar como símbolo da estação ratzingeriana (a do renascimento e da reconstrução na ortodoxia), esse é justamente Messori. Logo, o fato de que hoje, no jornal da CEI, atira-se sobre Messori (pela enésima vez), acima de tudo através de uma carta (como atirar uma pedra e esconder a mão), com tal título “Messori: “Nemici” di Francesco e di Benedetto”, faz literalmente se indignar. 
De resto, estou certo de que Messori não se sente e não seja “inimigo“, nem mesmo de Francisco, sobre quem – ao mesmo tempo com algumas considerações – ele se limitou a expor algumas de suas preocupações. 
Ao longo das últimas décadas, os papas (de Paulo VI a João Paulo II e Bento XVI) foram “bombardeados“, sem que ninguém tivesse de contestar. Hoje, ao contrário, chegamos a um ponto de semelhante intolerância sufocante, que um grande intelectual católico como Messori chegue a ser lançado na fogueira, por uma nova Inquisição ideológica, somente por ele ter expresso sua pacata e respeitosa “perplexidade”? 
OUTRAS REVELAÇÕES
Mais adiante, essa carta – creditada ao diretor do “Avvenire” -, antes das linhas explosivas sobre a “conjuração“, diz outra coisa que surpreende ao ser lida no jornal da CEI: “uma pessoa simples como eu tem uma nítida impressão de que há um conflito de poder na Igreja e em torno dela, e que o ataque ao papa é dirigido pelos habituais “salotti buoni” (ndt: lit. bons salões) (…) Temo que não se trata dos mesmos grupos que, pelas razões habituais de poder e abuso de poder, traíram e conspiraram para eliminar o papa Ratzinger (…) e o impeliram à “renúncia”. 
Nesse ponto, convém exigir de Tarquinio, que publicou e aprovou essa carta, que ele nos explique finalmente o “complô” do qual o papa Bento XVI foi vítima, que ele ilustre o atual “conflito de poder na Igreja” e que, enfim, ele diga claramente quem são esses “salões” e os seus “frequentadores“. 
Essa última referência, de fato, além de ser vaga, é absurda. Porque os “bons salões” dos poderes mundanos – como demonstram todos os dias seus jornais – são fãs entusiastas do papa Bergoglio. 
Provavelmente, o excesso de zelo de Tarquinio, em querer demonstrar a certo poderoso salão Curial sua oposição a Messori, o fez escorregar numa casca de banana.
O diabo, sabe-se, produz as panelas, mas não as tampas. E agora nos encontramos com um jornal da CEI que afirma claramente que Bento XVI renunciou após uma “traição” e um “complô“, e que na Igreja de hoje está em curso um “choque de poder”. Que Tarquinio tente colocar uma tampa. 
Talvez ele possa fazer isso concedendo outra entrevista, como a de dias atrás, à “Rádio radical“, onde ele entrelaçou um cordial e promissor diálogo com os radicais (augures!) e tornou a defender Pannella e a repetir sua injustas e inconsistentes críticas ao mesmo Messori. 
E os dirigentes da CEI também deveriam se ocupar com isso e dar explicações sobre a “conspiração” contra Bento, que o impeliu à “renúncia“, de acordo com o que lemos no “Avvenire“. 
E no Vaticano, o padre Frederico Lombardi, diretor de imprensa, o que ele tem para dizer sobre as notícias explosivas do “Avvenire” a propósito da conspiração que conduziu à “renúncia” do papa Bento?